Sessão Especial COVID-19 deu perspectiva da pandemia em Évora
Atualizado em 22/11/2021Uma Sessão Especial COVID-19 teve lugar no dia 16 de outubro, no Salão Nobre dos Paços do Concelho de Évora. Foi feita no âmbito do XXI SPB Congresso Nacional de Bioquímica 2021 que decorreu de 14 a 16 de outubro em Évora. Facultou uma melhor compreensão da situação vivida em Évora e nomeadamente da forma como foi gerida pela Universidade, pelo Hospital do Espírito Santo e pela Câmara Municipal.
Nesta apresentação falou-se das características da pandemia e dos desafios lançados às entidades governativas, instituições, comunidade científica e população. Procurou-se também contribuir para reorganizar ideias e ganhar novas perspectivas, potenciando abordagens interdisciplinares no âmbito de intervenções em Saúde Pública, enquanto bem público.
Após a sessão de boas vindas a cargo de Victor Ramos (Director da Escola Superior de Desenvolvimento Humano da Universidade de Évora), da representante da Presidente da Sociedade Portuguesa de Bioquímica e do Presidente da Câmara Municipal de Évora, Carlos Pinto de Sá, seguiram-se as intervenções técnicas. Interveio Felismina Mendes (Coordenadora da Equipa de combate ao Covid-19 da Universidade de Évora) em representação da Reitora Ana Costa Freitas; Isabel Pita (Directora Clínica do Hospital Espírito Santo de Évora; Ricardo Mexia (Médico de Saúde Pública do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública); Miguel Castanho (Investigador do Instituto de Medicina Molecular e Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) e o autarca Carlos Pinto de Sá.
Abordou-se um vasto conjunto de aspectos ligados ao trabalho desenvolvido nas diversas entidades. Os intervenientes explicaram, nomeadamente, que o combate à pandemia exigiu a tomada de medidas novas, rápidas e eficazes – num país onde os serviços públicos (inclusive a investigação científica) estavam há vários anos a ser alvo de abandono e degradação acentuada por parte do Estado Central – mas os dirigentes e trabalhadores das instituições públicas deram mostras da sua coragem e profissionalismo, trabalharam em equipa e uniram esforços essenciais para salvar a vida às populações. A sociedade também deu o seu grande contributo e, no que respeita a Évora, foram imensos os particulares e empresas que generosamente ajudaram as entidades públicas na salvaguarda da saúde e da segurança das populações.
O sistema público foi essencial, reconheceram os oradores, apesar das muitas carências, mas se estivesse reduzido ao mínimo a catástrofe poderia ter sido bastante maior, pelo que urge agora repensá-lo e fortalecê-lo. Além disso, sublinharam ainda os especialistas, importa precaver tais ameaças e estar preparado para lhe responder devidamente, pois têm a certeza que elas vão repetir-se, apesar de não se saber quando.
No que concerne à Universidade de Évora, Felismina Mendes falou dos desafios operacionais que enfrentaram (apesar de já haver alguma experiência de combate á Gripe A em 2009), da criação do Plano de Contingência e da operacionalização de medidas. A salvaguarda da saúde dos estudantes e profissionais da Universidade e a participação no esforço de combate da pandemia na comunidade e na região (nomeadamente através da investigação e realização de testes), além da colaboração com outras entidades, entre elas o Hospital e a Câmara Municipal, foram alguns dos pontos expostos. O trabalho abarcou igualmente a aquisição de equipamentos em tempo útil, quando estes ainda eram escassos, de bens essenciais e equipamentos informáticos para os estudantes, a gestão das expectativas e medos, a falta de verbas estatais, entre outras dificuldades.
Algumas destas dificuldades também foram inerentes ao Hospital, das quais a Directora Clínica Isabel Pita falou na sua intervenção acerca dos “Desafios para a gestão de um Hospital Público/Serviço Nacional de Saúde em pandemia”. Um trabalho centrado em quatro fases da pandemia, em relação à qual pouco se sabia e que foi necessário aprender em tempo record e adquirir equipamentos necessários tanto para proteção de profissionais e de doentes como para tratamento destes.
De entre o vasto trabalho realizado destacou alguns aspectos da 1ª fase como a criação da equipa de combate à pandemia e do Plano de Contingência, de 2 enfermarias Covid-19, 1 Unidade de Cuidados Intensivos Covid-19, 1 Urgência para doentes respiratórios (ADR), 1 Unidade de Cuidados Intensivos Não Covid-19 e Circuitos Covid/não Covid.
Numa segunda fase, com o início dos surtos em lares da região foi necessário continuar a adequar o Hospital, tendo sido aberta uma terceira enfermaria Covid-19 (criada de raiz), uma nova unidade de cuidados intensivos e mais um espaço modular ADR. Foi elaborado o Plano de Recuperação da Atividade para alavancar a atividade não Covid-19, o reforço da telemedicina, reorganização de horários, reforço de equipas e contratualização interna com os serviços.
Numa 3ª fase registou-se a abertura da Estrutura Municipal de Apoio ao HESE em parceria com a Câmara Municipal de Évora, registando-se um total de 4 enfermarias, 2 UCI’s e Estrutura de Apoio em funcionamento simultâneo. Foi iniciado o processo de vacinação dos profissionais.
Até ao elaborar destes dados foram realizados mais de 150 mil testes serológicos e/ou RT-PCR no hospital e tratados 958 doentes nas enfermarias Covid e 236 nas Unidades de Cuidados Intensivos Covid. De referir ainda a contratação a todos os níveis de pessoal e um esforço constante de adaptação e requalificação da infraestrutura.
Isabel Pita aproveitou também para agradecer à Câmara Municipal pela criação da Estrutura Municipal de Apoio ao HESE (que veio ampliar a capacidade de resposta aos doentes) e a todos os profissionais que aí trabalharam. Realçou “a notável dedicação e empenho de todos os profissionais do Hospital e a extraordinária generosidade da sociedade e empresas”. Mas, aquando da pandemia, sempre pensava: “Quão diferente seria ter uma pandemia destas no novo Hospital Central do Alentejo”.
Ricardo Mexia reconheceu que os recursos humanos do Serviço Nacional de Saúde fizeram muito para além do que era a sua responsabilidade, considerando que “é fundamental continuar a apostar na formação, na investigação científica, prevenção e nas reservas estratégicas de equipamento de proteção individual”, entre outros aspectos. Destacou ainda o “o contributo das autarquias que é absolutamente extraordinário no combate à pandemia” além dos enorme papel dos meios académicos.
Miguel Castanho abordou aspectos mais científicos e afirmou ainda que “a necessidade de existência de um Plano de Contingência para as Doenças Infeciosas é fundamental, até porque as alterações climáticas podem trazer novas doenças e o país deve estar preparado”. Considerou que “houve uma aprendizagem com esta pandemia”, mas reconheceu também que “houve um grande abandono da investigação científica no nosso país”, salientando a necessidade de políticas públicas que invertam esta tendência.
Carlos Pinto de Sá falou da experiência camarária, ressaltando alguns tópicos desse trabalho como a criação logo no início da pandemia do Plano de Contingência, o seguir das orientações da Organização Mundial de Saúde, a criação de uma coordenação regional para acompanhamento e tomada de decisões conjuntas através da Comissão Distrital de Proteção Civil, a criação de equipas de profissionais para auxílio à população e de estruturas de apoio a lares e ao hospital, entre muitas outras decisões.
“Julgo que esta pandemia mostrou que temos que repensar o modelo económico de sociedade”, sublinhou o autarca, reafirmando também “a importância dos sistemas públicos, pois se não fossem eles a catástrofe seria muito maior. Eles são fundamentais e têm de ter as condições essenciais”.