Mão Morta: atuação inesquecível no Garcia de Resende
Atualizado em 05/07/202123 anos após a última atuação no palco do Teatro Garcia de Resende, os Mão Morta regressaram “ao local do crime” e não defraudaram as expetativas do muito público que encheu o recinto para ouvir a mítica banda de Adolfo Luxúria Canibal, fundada em 1985, em Braga. A caminho dos 35 anos de carreira, o álbum “No Fim Era o Frio”, lançado em 2019 e apresentado neste concerto, mostra a vitalidade e a capacidade de reinvenção de um grupo que consegue inovar e, em simultâneo, manter-se fiel ao seu património musical irreverente e critico.
O novo álbum, fundado a partir de uma narrativa distópica onde conceitos como aquecimento global ou subida das águas do mar servem de ponto de partida e cenário para um questionar e decompor de diferentes paradigmas do quotidiano, pareceu agradar aos fãs eborenses que, naturalmente, aguardavam com ansiedade os antigos “hinos”. Temas como “E se depois”, “Bófia” ou “1.º de Novembro”, levaram a plateia a cantar em uníssono com a banda bracarense que, no final do concerto de cerca de duas horas, ainda distribuiu autógrafos pelos admiradores.
Este espetáculo marca o encerramento temporário do Teatro Garcia de Resende que, em breve, vai beneficiar de um conjunto de obras de requalificação no interior e no exterior.
Quarenta anos de poesia de Adolfo Luxúria Canibal reunidos em livro
Antes do concerto de Mão Morta, o final de tarde foi aproveitado por Adolfo Luxúria Canibal – vocalista da banda – para apresentar o livro “No rasto dos duendes eléctricos (Poesia 1978 – 2018)”. Trata-se de uma antologia poética que representa o oitavo volume de Elogio da sombra, a coleção de poesia coordenada por Valter Hugo Mãe.
“O trabalho de Adolfo Luxúria Canibal é um dos mais cultos no panorama do rock português. Exímio à frente dos Mão Morta, o seu carisma justifica parte da contínua vigência da sua grande banda, carisma que adensa com letras frontais, sempre colocadas como golpe perante um mundo de seduções, vícios e falhas virtudes”, assinala Valter Hugo Mãe, que acrescenta ainda não haver “um moralismo bacoco. O que diz é do foro da denúncia e é também afeição ao perigo, porque não se tem como exemplar, tem-se como livre. Não é possível a cultura portuguesa recente passar ao lado da poesia que aqui se reúne.”
Para além de Adolfo Luxúria Canibal, a apresentação da obra contou com a presença de Eduardo Luciano, vereador com o pelouro da Cultura na Câmara Municipal de Évora.